quinta-feira, 21 de abril de 2011

Começa curso de teatro no Hospital ViValle







FOTOS:primeiro encontro dos funcionários do hospital

Teve início no último sábado (16/04) o curso de teatro para os funcionários do Hospital Vivalle, que comemora 10 anos de atuação em São José dos Campos. O curso faz parte do programa de Humanização da empresa, que prevê a realização de várias atividades, entre elas, o teatro, que será desenvolvido pelos atores Adriana Barja, Andréia Barros e Wallace Puosso, da Cia Teatro da Cidade. O curso terá duração de seis meses e acontece uma vez por semana no próprio hospital.

Nesse primeiro encontro, optamos em trabalhar jogos teatrais visando à integração do grupo. Começamos com alongamento, em seguida, exercícios de voz e corpo. Os integrantes se mostraram interessados em aprender a arte teatral e participaram ativamente dos jogos propostos.



Andréia Barros

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Agenda:

Bons encontros...


Vander Palma, Umberto Magnani e Paulo Williams.


Ana Cristina Freitas,Andréia Barros,Umberto Magnani e Izildinha.

Na noite de lançamento do livro do nosso querido Abreu, (re) encontramos com o nosso também querido Umberto Magnani. E claro, postamos aqui como uma forma de homenageá-lo!

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Entrando para a história.


Foto: Andréia Barros, O mestre Abreu, Ana Cristina Freitas, Vander Palma e Izildinha.


O dramaturgo Luís Alberto de Abreu lançou na última segunda-feira, 11 de abril, na Livraria Lorena, em São Paulo, o livro “Luís Alberto de Abreu - Um Teatro de Pesquisa” e os textos “Maria Peregrina” e “Um Dia Ouvi a Lua”, montados pela Cia Teatro da Cidade estão lá no capítulo sobre o Teatro Nô. Dos três textos desse capítulo, a companhia só não montou “Um Merlin”. Mas em breve esse texto também contará com a direção de Claudio Mendel, um dos fundadores da Cia, em montagem com o ator Fernando Bezerra (Melhor ator no Festival de Cinema de Brasília 2010, pela atuação em “Transeunte”, longa de Erik Rocha).

sexta-feira, 8 de abril de 2011

O ator em seu cenário.

Aos 80 anos, Walmor Chagas mantém o olhar aguçado sobre TV, teatro e cinema
Publicado em 17 de novembro de 2010

Ele diz que não gosta de fazer novela, mas tem quase 30 folhetins no currículo. Garante que o que ama, de verdade, é o cinema, mas ficou consagrado como ator de teatro. Vive num sítio faz quase 20 anos, mas quando sai na rua não há quem não o reconheça, em virtude da famosa cabeleira branca. Diz que a pessoa mais importante de sua vida até hoje é sua primeira e única esposa, Cacilda Becker. Em algum momento da conversa, porém, afirma com a mesma convicção que um dia se cansou de viver à sombra dela, separou-se e foi buscar sua individualidade.

Descrevendo outras preferências, informa que não aprecia os Estados Unidos nem tem prazer em interpretar em língua estrangeira, para logo em seguida incluir os norte-americanos Tenessee Williams, Eugene O’Neill e Edward Albee na lista dos grandes autores teatrais. Aos 80 anos, mais de 60 dedicados à arte de representar, Walmor Chagas é um homem de muitas opiniões. E contradições.Isolado na zona rural de Guaratinguetá, São Paulo, numa paisagem emoldurada pela Serra da Mantiqueira, com morros, colinas e recortes de cachoeiras, Walmor recebe poucas pessoas. A única filha, Maria Clara, passa por lá de 15 em 15 dias. Tem também o jardineiro e seu filho, que moram perto, além de dona Luíza, que cuida dele e da casa quase todos os dias da semana. E só. “Percebi que estava na hora de ir-me embora. O teatro brasileiro estava muito ruim”, lembra, referindo-se ao dia em que fechou o Teatro Ziembinski, no Rio de Janeiro, e construiu a casa em que vive.

Entre um Marlboro e outro – fuma em média 30 cigarros por dia –, o ator afirma que não sabe o que é sentir saudades de alguém. O que sente é falta, tenta explicar. “O ator é tão atualizado em si mesmo, tão egocêntrico, que só existe ele, não existem os outros. Então, na medida em que não existem os outros, não tenho saudades. Eu tenho um sentimento de falta. Sinto falta da Cacilda, de boas peças, de bons dramaturgos”, afirma ele.


Primeiro ato

Cacilda Becker morreu praticamente em seus braços. Durante o intervalo da peça Esperando Godot (texto de Samuel Beckett, com direção de Flávio Rangel, 1969), chegou a Walmor e disse: “Acho que estou tendo um derrame”. Ela estava, de fato, sofrendo um aneurisma cerebral, e ficou internada durante 38 dias, com Walmor a seu lado, até que resolveram desligar os aparelhos. “Fizemos 30 ou 40 representações e, na última delas, no intervalo, Cacilda se sentiu mal. Nunca fizemos aquele segundo ato. Foi muito triste. É a pessoa mais importante da minha vida até hoje. Ela e o [poeta] Fernando Pessoa são duas pessoas que eu consulto permanentemente”, diz o ator.
A primeira vez que viu Cacilda foi durante a peça Pega-Fogo (1950), de Jules Renard, sob a direção de Ziembinski (Zbigniew Marian Ziembiński, diretor polonês falecido em 1978). Foi quando chorou pela primeira vez ao assistir a uma apresentação, recorda-se Walmor, que ainda morava em Porto Alegre e estava de passagem por São Paulo. Poucos anos depois, em 1956, os dois eram colegas de Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) e estavam contracenando em Gata em Teto de Zinco Quente quando, no intervalo, se beijaram.

O TBC era o maior teatro de São Paulo na época. E Cacilda, a maior atriz. Walmor, então, ficou em segundo plano. A princípio, feliz. “Eu gostava do segundo plano. Eu amava e acreditava nela, não em mim. Ela era maior, e as peças eram escolhidas para ela. Algumas eram escolhidas para mim, e nunca davam muito certo”, acredita ele, que também era empresário da esposa.“Farto do repertório do TBC”, que só montava peças estrangeiras, Walmor pediu dinheiro emprestado ao pai – ele “achou que o teatro era um bom negócio. Coitado, nós o enganamos!” – e montou, ao lado de Cacilda, o Teatro Cacilda Becker (TCB), em 1957. Levaram junto Ziembinski e Cleyde Yáconis, atriz e irmã de Cacilda, para fazerem peças principalmente nacionais. Mas só em 1960 o teatro ganhou sede própria, na Federação Paulista de Futebol. O TCB estreou, entre muitas, a peça O Santo e a Porca, de Ariano Suassuna, em 1958. Um dos pontos altos foi Pega-Fogo, de Jules Renard, remontagem bem-sucedida do período de TBC e mesma peça em que, anos antes, Walmor havia visto Cacilda pela primeira vez. No papel do garoto protagonista, Cacilda Becker teve sua consagração como atriz, e o espetáculo, apresentado em várias cidades do Brasil e também nos países onde o grupo fez turnê, tornou-se um clássico.

Ao todo, foram quase 30 peças encenadas pela companhia, em dez anos de existência, mas no meio disso tudo Walmor se cansou. Seria a primeira das separações da dupla. “Eu estava cansado de ser o empresário de Cacilda, desse segundo papel de ficar sustentando a estrela, de arranjar papel para ela. Pensava para onde iria a minha vida de ator. Será que seria sempre o empresário dela? Eu não queria isso. Me separei para tentar levar uma vida pessoal independente dela”, lembra Walmor, que se refugiou em Porto Alegre, mas voltou em 1964, ano em que nasceu a única filha dos dois, Maria Clara.


Papel principal

As pessoas falavam que ele se parecia com Rui Barbosa. Era magrinho e cabeçudo, segundo diziam. Por isso, Walmor se achava feio. Mas, quando subiu ao palco pela primeira vez, com Antígona, aos 18 anos, ficou feliz de poder se exibir. As luzes acenderam-se e sentiu-se bem pela primeira vez na vida. Desde então, não parou. Participou do Teatro do Estudante de Porto Alegre durante os quatro anos seguintes; tentou cursar filosofia, pois na cidade não havia escola de teatro, mas foi expulso logo no primeiro ano porque “matou Deus” e não aceitava assistir às aulas de teologia. Foi transferido para a universidade pública, cansou, fez as malas e, com o apoio da avó Clara, se mandou de navio rumo a São Paulo.

Os dois primeiros anos na cidade foram difíceis. Passou necessidades e fome até conseguir um contrato com o TBC, a “Globo da época”. Isso em 1954, com Assassinato a Domicílio, de Frederic Knott, contracenando com Cleyde Yáconis, sob a direção de Adolfo Celli, que marcou sua estreia como ator.

Embora tenha se consagrado como ator de teatro, Walmor Chagas sempre teve paixão por cinema. Mas, no começo de sua carreira, o que tinha, segundo ele, era só chanchada no Rio de Janeiro, e isso ele não queria. Teve uma estreia à sua altura, em 1965, como protagonista de São Paulo S/A, de Luís Sérgio Person, pelo qual foi publicamente elogiado por Luís Buñuel no Festival do Filme de Acapulco, México. Foi coadjuvante em vários longas, como Xica da Silva (1976), Asa Branca – Um Sonho Brasileiro (1981, com o qual ganhou o prêmio de melhor ator em Gramado) e Luz Del Fuego (1981). Mas papel de protagonista só em São Paulo S/A e, mais recentemente, em Valsa para Bruno Stein (2007), de Paulo Sacramento. “Diretor de cinema tem medo de ator de teatro, porque eles sabem dirigir o filme, mas não entendem a dinâmica mental do ator de teatro”, acredita ele, que acabou de filmar o longa Corda Bamba, de Ugo Giorgetti, em fase de pós-produção.Espectador de carteirinha do Canal Brasil, onde acompanha a produção cinematográfica nacional, o ator diz que nada tem lhe chamado a atenção atualmente, com exceção de Estômago (2007), filme de Marcos Jorge: “O filme é ótimo, conseguiu pôr no cinema o que Nelson Rodrigues colocava no teatro”.


A paz do artista

Na televisão, Walmor ainda assiste à TV Câmara e à TV Senado, diariamente: “Acho aquilo um teatro fantástico, são as melhores peças. Me divirto muito. Os políticos são atores perfeitos!”.
Walmor está assistindo a Passione, novela das 20h, da Rede Globo, mas já cansou de novo. O ator afirma não ter gostado de fazer nenhuma das dezenas de novelas de que participou. Fez só por obrigação e pelo dinheiro. “É um processo altamente cansativo e destrutivo para um ator. Transforma todos em canastrões. Não é interessante, não é arte”.Mas, entre todas as produções em que já trabalhou na televisão, cita a minissérie Os Maias (2001) como uma das melhores, apesar de tudo. “É verdade que Maria Adelaide Amaral meteu a mão e misturou Os Maias com A Relíquia e não podia ter feito isso. Os Maias é uma obra em si, mas ela achou que estava sendo criativa e que o público não ia gostar daquele drama do Eça de Queirós e colocou A Relíquia”, defende ele.

Desde que se desfez do Teatro Ziembinski, que comprou “com o dinheiro de cinco apartamentos”, em 1992, Walmor fez pouco teatro. Viveu Hamlet, de Shakspeare, em 1970, que “foi uma desgraça”, porque ele acredita que o ator só pode ser grande em sua própria língua, nunca em uma tradução. “Lavou a alma” depois disso em Porto Alegre, com o espetáculo Camões, Nosso Contemporâneo. Anos depois, em 1986, dirigiu e interpretou, ao lado de Ítalo Rossi, o bem-sucedido Encontro com Fernando Pessoa. Em 1999, participou de Um Equilíbrio Delicado e, mais recentemente, em 2005, atuou no monólogo Um Homem Indignado. “Minha vontade, com o Teatro Ziembinski, era de recuperar a cena artística nacional, mas não foi ninguém. Comecei com uma peça do Carlos Henrique Escobar, fiz uma do Millôr Fernandes, mas não foi grande coisa. Então desisti”, lembra ele, que logo depois se mudou para a casa em que mora até hoje. “O teatro brasileiro está velho, do ponto de vista da dramaturgia. Fui assistir a algumas peças na Praça Roosevelt, mas achei que eram mais sobre o escândalo do que sobre a arte”.
Hoje, Walmor tem uma vida tranquila. Curte a velhice, que acredita ser o portal da criança, por “poucas coisas divertirem a gente”, na simplicidade do interior. Em paz.
Fernanda Paola
Fotos: Marcelo Naddeo

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Cia na TV Aparecida



Atores da Cia Teatro da Cidade foram entrevistados pela TV Aparecida para o programa Tvendo e Aprendendo, que foi ao ar na terça-feira (05/04), às 21h20. O programa será repetido no sábado (9/04), às 12h30. E depois estará no blog www.a12.com/blog/tvendo.
Assistam!!!!!!

Teatro no Hospital ViValle

Comemorando 10 anos de atuação em São José dos Campos, o Hospital ViValle lançou um programa de Humanização aos seus funcionários, para a realização de várias atividades, e entre elas, estão previstas aulas de teatro. O curso, sob responsabilidade da Cia Teatro da Cidade, terá duração de seis meses e acontecerá uma vez por semana no próprio hospital.



(Nas fotos: atores do grupo e funcionários do hospital. Primeiro contato.)

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Aguardem...

A Cia. Teatro da Cidade abre seu processo criativo e de investigação teatral:

RESPIRANDO NA ANTE-SALA DO MATADOURO
ALMAS ABAIXO DE ZERO


Moscou, 1897. São Paulo, 2011.
Outono-Primavera
Cena: um bar com mesas na calçada.
Na mesa, cervejas. Nada de vodca.
Cinco pessoas conversam sobre poética. Poética da cena, no teatro, na literatura. Poética da aventura russa rumo à utopia marxista.
Cinco pessoas refletem. Sobre fatos presentes. Conversas que se iniciaram a mais de um século.
Moscou é uma cidade fria em boa parte do ano. São José dos Campos é fria o ano todo. Por isso as pessoas bebem. E trabalham muito.
E não tem tempo para freqüentar teatros.
Nossa aventura não existem Mecenas. Mas tem trincheiras. E são várias.
Stanislavski, Tchekhov, Olga Knipper, Meyerhold e Gorki.
Cinco pessoas. Conversam sobre circunstancias. Nada é por acaso.
Na mesa, em meio aos copos, cartas. Amareladas não pelo tempo, mas pelo descaso.
Nossos czares-coronéis enterram planos de um futuro melhor. Que futuro?
No Brasil não há revolução armada. Na Rússia não há homens cordiais, comuns aos trópicos.
Trôpegos, traçamos uma linha imaginária com mais de cem anos e respiramos na ante-sala do matadouro.
Enquanto restar forças, gritaremos a todo pulmão.
Nossas cartas não têm truques. Nem travas na língua.
Cinco jogadores em torno de uma idéia.
Na virada do século 20, um grupo de artistas conhecidos como 'O Mundo da Arte', se dedicou à retomada da qualidade artística sob a bandeira da 'arte pela arte'.
Criaram pinturas de excelente qualidade e fizeram sentir sua influência em todos os ramos da arte, embora talvez de maneira mais expressiva no palco.

Não perca!
INVERNO DE 2011
Wallace Puosso.

Congresso Brasileiro de Teatro.

Esse é o cara!

Não, não é o Lula. Falo de Ney Piacentini.
Ao finalizar o Congresso Brasileiro de Teatro, no dia de hoje (27 de março de 2011 - Dia Mundial do Teatro), permito-me chamá-lo de “o cara”, pois a sua articulação permitiu que esse encontro pudesse reunir 20 Estados brasileiros e mais o Distrito Federal. Além disso, contou no encerramento do evento, com as presenças da ministra Anna de Holanda, Antonio Grassi, presidente da Funarte, e Sérgio Mamberti, secretário nacional de políticas culturais.
A briga foi intensa, cansativa, mas no fim prazerosa. Então, no fim aconteceu a catarse de Aristóteles! O primoroso discurso do Ney, que citou o historiador Sérgio Buarque de Holanda (pai da ministra), quando descrevera a diferença entre público e privado!! E aí entra o nosso repúdio, de todo o Brasil TEATRAL, da “renúncia fiscal”. E a defesa do Prêmio Brasileiro de Teatro, que contou com a declaração de apoio da ministra!
A participação nesse histórico Congresso Brasileiro de Teatro(já que o ÚNICO aconteceu em 1979, na Aldeia de Arcozelo, no Rio de Janeiro) foi um aprendizado para todos nós. A delegação de São José dos Campos, representada pelo ator e diretor André Ravasco, teve atuação significativa no processo de deliberação e contribuiu para os avanços do desenvolvimento da área teatral no país.
Mas isso não significa que a luta terminou. Significa, acima de tudo, que a luta deve continuar de forma organizada em todos os municípios brasileiros. No caso do Estado de São Paulo, é necessário nos prepararmos para discutir e estabelecer ações e metas que nos permita avançar ainda mais, considerando a diversidade de pensamento e linguagem. Isso, acredito, foi a maior lição deixada pelo presidente da Cooperativa, que em nome da classe teatral, superou, na minha opinião, todas as diferenças em prol da unidade nacional na defesa do Prêmio Brasileiro de Teatro.

Saudações teatrais,

Andréia Barros
(Cia Teatro da Cidade de São José dos Campos, 21 anos de luta e resistência)



Artistas autoridades, autoridades artistas e a política

Por Valmir Santos

O substantivo “política” e o verbo “politizar” contrastaram no Congresso Brasileiro de Teatro realizado dias 26 e 27 de março em Osasco, sábado e domingo. Os artistas mobilizados foram hábeis no pragmatismo de resultado para influenciar o governo sobre a causa-mor dos últimos anos: ver aprovado o projeto de lei que cria o Prêmio Teatro Brasileiro, um programa ainda mais potente que o pioneiro Fomento paulistano, de 2002, dada a escala federal e a meta de triangular os suportes de manutenção, produção e circulação focalizando tanto grupos de pesquisa como produtores de espetáculos convencionais. A cúpula do Ministério da Cultura foi atraída para ouvir a Carta de Osasco e uma moção de repúdio à renúncia fiscal em plena tarde de um domingo, Dia Mundial do Teatro e justo na cidade da Grande São Paulo onde a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, foi secretária 25 anos atrás. Estavam lá o presidente da Fundação Nacional de Artes (Funarte), o ator Antonio Grassi. O secretário de Políticas Culturais do MinC, o ator Sérgio Mamberti, à frente da Funarte na gestão passada. O deputado federal Vicente Cândido, do Partido dos Trabalhadores, interlocutor do movimento Arte contra a Barbárie na transição da Lei de Fomento pelo legislativo paulistano, o que tenta repetir em Brasília. Eis os protagonistas pisando o cenário no desfecho do encontro ancorado pela prefeitura do PT, por Emidio de Souza, colega do senador Eduardo Suplicy, também presente.

Antes da “cena final”, o congresso teve seus debates e plenárias transcorridos na manhã e tarde de sábado e na manhã de domingo. O diretor César Vieira, cofundador do Teatro Popular União e Olho Vivo (1966), traçou o histórico de mobilizações, como a última de que se tem notícia sob a nomenclatura Congresso Brasileiro de Teatro, realizada em 1979 na Aldeia de Arcozelo, no interior fluminense. Outro diretor, Luis Carlos Moreira, do Engenho Teatral (1979), pontuou as etapas de construção do projeto de lei do Prêmio, Moreira cujo ativismo foi determinante na estruturação do Fomento. O projeto de lei do Prêmio, programa que está sob o guarda-chuva do Programa Nacional de Fomento e Incentivo à Cultura, o chamado Procultura, foi discutido diante dos cerca de 200 representantes vindos de 20 Estados e Distrito Federal – segundo informam os organizadores –, sob mediação da diretora Tiche Viana, do Movimento Levante Cultural, de Campinas, onde integra o Barracão Teatro, e do ator Adailton Alves, da Rede Brasileira de Teatro de Rua (RBTR), membro do Buraco D’Oráculo, radicado na zona leste de São Paulo.

Até a chegada da comitiva do MinC, quando passava das 15h de domingo, o Congresso cometeu alguns “partos” dominicais testemunhados pelo Teatrojornal. Como a seleção de quem iria compor a mesa com as autoridades. Foram votados os atores Giancarlo Carlomagno, da RBTR e Grupo Oigalê (Porto Alegre), Marília de Abreu, da Cooperativa Brasiliense de Teatro e Circo e do Grupo Roupa de Ensaio (DF), e Ney Piacentini, presidente da Cooperativa Paulista de Teatro e da Companhia do Latão. Outro ponto de ebulição foi a redação final da Carta de Osasco, documento esboçado por uma comissão, projetado em tela e assim revisado coletivamente. Respingaram questões já discutidas à minúcia no sábado, ressentimentos diante da “arrogância paulista” que nem sempre pondera as especificidades ou necessidades das demais regiões além-Sudeste. E aqui entra o capítulo do verbo politizar. Ele foi pouco flexionado, trazendo à luz distensões quanto a uma moção de apoio ao Procultura, por exemplo, celeuma de véspera que durou até o óbvio: se o Prêmio faz parte do Procultura, impossível não apoiar o projeto de lei que tramita desde 2007, já aprovado por comissões decisivas do Congresso Nacional, como a de Educação e Cultura, em dezembro passado. Quando da sua implementação, convergirá as seguintes fontes para os recursos estimados em R$ 78 milhões e com item próprio no orçamento da Funarte: Fundo Nacional da Cultura, Fundo de Investimento Cultural e Artístico (Ficart), Vale-Cultura, incentivo fiscal e programas setoriais de artes

Mesmo o cordelista pernambucano Edmilson Santini – único cenicamente paramentado – tendo improvisado a abertura dos trabalhos às 10h de domingo lançando o mote “o remédio é conversar”, esta emperrou em vários momentos. Ânimos acirrados por questões semânticas e ortográficas, choques de interesses regionais por ressentimentos quanto à hegemonização paulista e o jeito “locomotiva” dos “artistas autoridades”, para lembrar das “autoridades artísticas” que Marília de Abreu saudou antes de ler a Carta de Osasco. Clayton Mariano, do Tablado de Arruar (SP), rogou paciência lembrando “rachas” que fizeram soçobrar a rede nacional de grupos Redemoinho, entre 2004 e 2009. “A gente tem que desarmar o clima de Fla x Flu”, conclamou o pesquisador Dorberto Carvalho, da Companhia Insurgente (SP), coautor de A luta dos grupos teatrais de São Paulo por políticas públicas para a cultura (2008), com a pensadora Iná Camargo Costa. “O resto do Brasil deve ter direito a voz”, disse o ator e diretor Nelson Bambam, do Movimento Teatro de Grupos de Minas Gerais e da Companhia Acômica, alegando a centralização dos coletivos de São Paulo e suas próprias divergências – como na abstenção da RBTR em alguns tópicos, revelando a força de articulação dos artistas de rua organizados em rede há quatro anos. A ponto de conquistar da plenária a aprovação a uma moção de repúdio pela criminalização dos artistas de rua em voga em muitos centros urbanos dada à percepção estreita de administradores públicos. “O Teatro de Rua é ferramenta importante para a segurança em nossas cidades. Onde existe manifestação artística a criminalidade diminui”, disse Grassi, da Funarte.

Em meio aos rompantes mais acalorados, boa parte dos artistas se retirava do auditório e flanava pelo corredor do centro de formação de professores de Osasco, entre cafés e bancas de livros de artes cênicas, sociologia e política. A ponto de Adailton Alves, um dos mediadores, também ontem, chamar essa turma para dentro feito um pito de professor. “Está difícil para a mesa entender as coisas aqui em cima. A gente não está conseguindo organizar absolutamente nada.” Faltava pouco mais de meia hora para a ministra chegar. Foi nesse momento que José Renato, um dos ícones do Teatro de Arena (1953-1972), sempre em seus passos mansos, adentrou o local e sentou ao lado do diretor e dramaturgo José Fernando de Azevedo, do Teatro de Narradores (SP), cujo silêncio durante toda a plenária surpreende ou revela o estado de coisas – suas intervenções quase sempre realistas eram comuns em rodas de discussões como essa, valorizando o repertório de ideias. Zé Renato, por sua vez, há meio século sentava-se com Décio de Almeida Prado e Geraldo Mateus Torloni no 1º Congresso Brasileiro de Teatro, no Rio, para dissertar sobre as virtudes estéticas e, naquele tempo, também econômicas na opção pelo palco de formato circular em que a plateia e a cena são inseridos.

Tudo isso serviu de pano de fundo à oportunidade política, esta sim, costurada por Ney Piacentini. Ele declarou ter ligado para mais de 50 deputados e senadores de comissões afins para que endossassem o convite a Ana de Hollanda para ir ao Congresso Brasileiro de Teatro. Ligou para Grassi no início da semana e, diante da possibilidade de uma “agenda negativa” da ministra por conta de sua ida ao Festival de Curitiba - a cerimônia oficial de abertura ocorreu na noite de 28 de março, segunda-feira, no Museu Oscar Niemeyer -, ele não titubeou em praguejar que seria uma “gafe” tal inversão de prioridades. Apesar da sua presença e intervenções invariavelmente tempestivas, metido em bermudas nos momentos protocolares mais improváveis – como na hora de juntar-se à mesa com as demais autoridades -, ainda assim Piacentini safou-se com os 13 minutos que disseram a que veio o Congresso Brasileiro de Teatro em sua versão 2011. Falando no púlpito, ladeado por bandeiras do Brasil, do Estado e do município, gesto largo, voz embargada, de cara ele lançou mão das “raízes” de Sérgio Buarque de Hollanda, “seu pai”, dirigindo-se especialmente à ministra. E deitou loas, aqui pinçadas e mais inclinadas a Stanislavski do que a Brecht, como parodiamos a sua Companhia do Latão:


“As raízes do Brasil estão conosco. Neste momento, podemos dizer que temos apenas uma visão do paraíso. Seu pai [nos] ensinou a diferença entre público e privado nas relações humanas. Rememoro Sérgio Buarque de Holanda para que, se não agora, imediatamente, mas que em cinco ou dez anos nós extinguamos a renúncia fiscal na cultura do país. Não se trata de animosidade com os nossos parceiros que veem na arte um negócio numa sociedade de economia aberta, capitalista. Aqueles que invistam do seu próprio bolso. Não podemos mais aceitar o capitalismo de Estado. Fim ao capitalismo de Estado no país! O capitalismo tem pernas, acredito, para sobreviver sem o Estado. [...] Nós queremos contribuir, ministra, com a Dilma. Erradicar as misérias cultura e simbólica da nação. O Prêmio Teatro Brasileiro é esforço de divisões, esforço gigantesco, de divisões doloridas [refere-se aos próprios pares do teatro em níveis local e nacional]. Na peripécia teatral desse roteiro dramático que nós vivemos aqui, não aconteceu tragédia, tampouco aconteceu o grande final, mas como o bom teatro que sabemos fazer, os pontos de vista estão em questão. Brecht está entre nós, Boal [o teatrólogo Augusto Boal, morto em 2009] está entre nós, Reinaldo Mais [dramaturgo e cofundador do Grupo Folias D’Arte, de SP, morto em 2009] está entre nós, Alberto Guzik [crítico e ator da Companhia de Teatro Os Satyros, de SP, morto no ano passado] está entre nós. [...] Os parceiros do teatro empresarial brasileiro não se escreveram [no congresso]. A gente os inclui. O Prêmio não é só para grupos e companhias, ele é para os produtores também. Não queremos nos dividir. Mas é um Prêmio principalmente para a população. Quando o empresário brasileiro pega R$ 1 milhão e cobra R$ 100, a população já pagou por esse ingresso e não tem direito de entrar nesse teatro”. Foi aplaudido pelo menos três vezes em cena aberta.

Eis o discurso político do homem que preside a Cooperativa Paulista, alheio aos deslizes demagógicos e apelando francamente à emoção daqueles que têm o poder de turno. Não se avexou, inclusive, de citar o ex-ministro Juca Ferreira (PV), lembrando dos três presidentes atores que já passaram pelo cargo principal da Funarte, nos oito anos de Lula (Grassi, Celso Frateschi), em paradoxo com a falta de políticas públicas para o setor.

Ana de Holanda, por fim, embarcou nos afetos que já a circunscrevia a um dos principais territórios de sua bagagem como gestora pública. Osasco foi seu laboratório nos anos 1980. “Aqui, eu tinha que me dar com o legislativo, o executivo, com a imprensa, ouvir críticas, saber entender, saber com quem eu estava lidando. Eu estou em Brasília, aqui era um microcosmo. Entendo que vocês têm essa característica da luta, de olhar a sociedade e ter uma visão crítica. Temos de nos lembra de nosso mestre Bertolt Brecht, do teatro dialético: não olhar só para o retrato de uma sociedade, mas para quem nela vive”, disse a ministra. “Compreendo muito bem a preocupação de vocês. O Ministério está aberto. Quero ser cobrada sempre.”

Mamberti diz ter percebido o congresso teatral como equivalente ao realizado pelo meio cinematográfico no início dos anos 2000, determinante, segundo ele, para a deflagração da chamada "virada" no audiovisual nacional em termos de produção e fôlego estético. "Eu espero que esse congresso tenha a mesma força."

Em suma, o Congresso Brasileiro de Teatro foi, antes de tudo, uma demarcação simbólica dos artistas por um Fomento federal. Levando-se em conta o contexto de contingenciamento, este sim, dramático que o MinC atravessa nesta gestão, lá se vão apenas três meses, a ocasião é de firmar pés no chão. E mais uma vez, num ajuntamento dos artistas do teatro, agora sob a rubrica científica de congresso, as noções de política e de politização (sobretudo seu déficit junto a um bocado de criadores) embaralharam-se. Novamente, fica a sensação de que as idiossincrasias ditam mais as regras do que a clareza e o raciocínio demandam. Pelo menos antes da ministra chegar e a representação entrar em cena.

(29 de março de 2011)

Fotos: