segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O teatro e só o teatro!

Quando comecei a fazer teatro, nos idos da década de 80, ainda adolescente, me lembro de um amigo (hoje jornalista) que, após um acontecimento “inusitado”, me disse: “O teatro e só teatro possibilita acontecimentos e fatos na sua vida, que você não imagina no seu cotidiano”. Sempre me lembro dessa frase. O teatro me possibilita tantas coisas “inusitadas”. Apresentar um espetáculo na Bolívia! Em Itajaí, Santa Catarina! E pior: sem poder ir à praia. E tantas outras coisas inusitadas: algumas boas para lembrar e outras, sinceramente, quero esquecer.
Mas, hoje, tive um fato inusitado que me deixou muito feliz e que quero lembrar muito. No início da década de 90, a Fundação Cultural Cassiano Ricardo, ainda sob a batuta da professora Fátima Manfredini (também um fato “inusitado” e que ainda hoje lembro com carinho) contratou “monitores” formados pelos cursos oferecidos pela entidade para dar aulas aos “iniciantes”.
Após a Fátima, veio o André Freire, que reformulou o projeto e lá estava eu como “professora” e o meu querido Márcio Douglas como “aluno”. Infelizmente (para mim), não dei aula para ele diretamente, já que a minha turma era no Putim. Mas me lembro de seus “professores” falando do “aluno” nas reuniões de avaliação do curso, no qual fui “expulsa” pelo então coordenador contratado pela Fundação Cultural. Mas isso é outra história “inusitada” que prefiro não lembrar!
E, hoje, quase 20 anos depois, lá estava eu no CAC Walmor Chagas como “aluna” do meu querido “professor” Márcio Douglas! O teatro e só o teatro! Participo, junto com mais 30 pessoas, do curso de palhaço/clown do ator e palhaço (que para mim é um dos melhores do Brasil) do Márcio Douglas, que começou nesse sábado (29/01), e que acontece em três módulos, divididos em finais de semana dos meses de janeiro, fevereiro e março.
Foram tantas as inscrições que o ator/palhaço teve que finalizar a turma, mas com a promessa de um futuro próximo fazer outro curso. Bom pra nós todos!


Andréia Barros

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Presença, ausência, passagem...




Essas foram as três palavras que utilizamos para criar cenas individuais no treinamento de ontem (28/01), que contou com as presenças da Adriana, Conceição, Thaís, Vander, Wallace e eu. O Atul Trivedi também esteve no treinamento instigando os atores no processo de criação. Na realidade, tentamos criar cenas, mas não chegamos lá. Fizemos exercícios em que o impulso era o pé e a, partir dele, as sensações, corpo, gestos e andar.
Acho que só o Vander conseguiu algum resultado, partindo das três palavras, sob olhar feminino.
Deixamos essa tarefa para casa. No próximo encontro, cada um deve apresentar uma cena para cada palavra ou juntá-las em uma ação somente.
O treinamento está muito gostoso, fluindo e bem menos cansativo agora.
Andréia Barros

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Atores e seus treinamentos.

Treinamento: 25/11/2011

Começamos a ter mais consciência de nossas possibilidades corporais, observamos evoluções no sentido postural e estamos aos poucos superando limites!
Isso tudo foi percebido ontem após o alongamento que tem a finalidade de - além do aquecimento e da preparação do corpo para o exercício – desenvolver a consciência corporal, na medida em que se focaliza a parte do corpo que está sendo alongada. Como atriz/terapeuta, tenho o conhecimento de que o alongamento também ajuda a liberar movimentos que foram bloqueados por tensões emocionais.
Em nosso caso, buscamos também nesse momento trazer nossa atenção e pensamentos para o corpo, deixando as questões cotidianas para “fora” do nosso espaço de trabalho. Vamos em direção a um treinamento que propicie uma energia extra-cotidiana que vise trabalhar o tão desejado “estado” do ator.
Ontem, partimos para exercícios que colocaram nossos sentidos em alerta: ao pular corda no escuro, fomos guiados por nossa audição e ampliamos nosso corpo perceptivo.
No exercício de ações físicas, desenvolvemos ainda mais nossa criatividade e o mais importante: o jogo! Colocamo-nos em prontidão!
Porém, foi na atividade de expressão corporal que conseguimos atingir o trabalho coletivo. Em nossas observações procuramos relacionar cada atividade com o trabalho de cena e o ofício do ator. Experimentamos a intensidade do estado de prontidão, “da entrega” e também “do receber”, ou seja, do jogo cênico!

Adriana Barja٭


Prática...
Acredito cada dia mais que prática é o que de melhor podemos ter na vida, pessoal e profissional, e isso inclui diretamente o teatro.
Reacender os corpos talvez essa seja a palavra chave.
Toda vez que nos propomos fazer qualquer ação física acredito que estamos de novo e mais um dia reacendendo os corpos, a mente a criatividade.
A prática faz com que a gente se permita enquanto atores e artistas, e como humanos também. Acredito que é na prática que descobrimos os medos, as inseguranças e as diferenças, e isso pra mim é realmente maravilhoso. Na prática conseguimos compartilhar experiências e enriquecer, acima de tudo evoluir.
Hoje 26 de janeiro de 2011 – Terça – feira, quando pulei corda no escuro , percebi o medo de errar, parei algumas vezes, fiquei tonta, talvez pela insegurança, pelo pavor da escuridão, já que essa nos traz lembranças tão estranhas, que criança gosta de escuro? Quando não se sabe que a noite também é boa. E foi assim, meus colegas me encorajaram, e me mostraram que se permitir à coisas que se tem medo é muito bom, pulei e quando entrei no jogo sem pensar em mais nada, só ouvindo a corda bater no chão, foi ótimo. Me entreguei.E mais uma vez me iluminei com o teatro reacendendo meu corpo.
reacender (ê) v. tr.
1. Acender novamente.
2. Excitar; estimular; avivar; desenvolver; activar!.
3. Fig. Dar novo ardor a.

Ana Cristina Freitas




"Corpo/ concentração. Relaxamento/tensão. Idéias. Mais idéias. Conflitos internos que desejam flutuar pelo espaço. O corpo pede Treinamento e a mente agradece ao realizá-lo. Eu agradeço a oportunidade e o aprendizado." Thais Lopes


" Um ensaio de teatro deve ser um ato teatral. A partir do momento em que chegamos lá até o momento de ir embora, todo o nosso comportamento deve ser teatral. Alguém que assiste ao ensaio deve sair com a sensação de ter visto uma grande peça, cujo assunto é um ensaio de uma peça de teatro." Domingos de Oliveira.
THAIS LOPES

Respiração. Cerimônia (ritual de preparação). Obediência ao mestre. Uma outra maneira de enxergar coisas óbvias. Rotina pelo avesso. Desafio frente ao desconhecido. O medo é um aliado: se ele existe é porque algo está faltando.

Wallace Puosso

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Treinamentos






Corpos em ação, em movimento, corpos eletrizados.
Corpos cheios te atenção, em prontidão em preparação.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Descobertas Sempre!

As obras de Mantegna, Watteau, Bosch, Strozzi e Lairana (única artista brasileira nesse primeiro momento) foram a inspiração para a criação de cenas dos atores que participaram do treinamento de quinta-feira (20/01), no CAC Walmor Chagas.
O encontro contou com a participação da Adriana, Ana, Andréia, Wallace, além da Thaís e Conceição, que foram pela primeira vez. O “quorum” está aumentando, diz a Dri.
As cenas foram individuais e, claro, mais erros que acertos. Porém, como diz a mestra Sara Lopes, “em teatro não existe certo ou errado e sim o que precisa ser feito”. Vamos chegar no que precisa ser feito.
A proposta era simples e, em teatro, a simplicidade sempre é problema: partir de uma ação para chegar à imagem. Sensações, ritmo, objetivo, movimento e, claro, ação são pontos que precisam ser considerados.
Mas estamos no começo da proposta. O treinamento, porém, já está cada vez melhor. Atenção, prontidão, integração e concentração! Incluem-se as “novatas”... no treinamento, entenda-se muito bem!
Andréia Barros

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

centro de ação



Mestre Janô já havia nos provocado recentemente: é preciso descobrir quais são os exercícios necessários para o que buscamos enquanto atores.
Este é o Santo Graal da nossa busca.
Nesse terceiro dia de treinamento avançamos um pouco mais em nosso trabalho corporal.
Os exercícios de alongamento propostos pela Adriana são preciosos instrumentos para expandir / dilatar os corpos cansados de cotidiano e rotina. Começa em partes específicas do corpo e num dado momento, tomamos consciência de todo o nosso corpo.
Em seguida a corda, como “guia” para prontidão e concentração.
com os bastões, primeiro o trabalho individual, ao caminhar pela sala com o bastão equilibrando-se na palma da mão e o olhar (sempre ele!) atento e focado. Depois, outro exercício de treinamento dos samurais: troca de bastão 4x1. Nesse exercício, especificamente, experimentamos as sensações as quais Bergson se refere em seu “Matéria e Memória”.
Em seguida – ainda com os bastões – todos em círculo e a movimentação do grupo (em sentido horário e depois anti-horário) segue uma liderança natural, estabelecida pelo olhar.
Ao final do treinamento de bastão, o corpo responde melhor a estímulos externos, à memória, corpo este em prontidão para o processo criativo do ator.
Na última parte do treinamento, lemos mais um capítulo da obra de Bergson e Vander puxou a discussão do seguinte paradoxo: entre o aprendizado teórico (Bergson) e um ator mais preparado para a cena (resultado esperado, aplicação prática desejada), onde ficam os exercícios que fazem a “ponte” entre um e outro?
Essa discussão durou quase uma hora e foi de suma importância para chegarmos à conclusão que, os tais exercícios que buscamos estão registrados na trajetória que cada um carrega. Os processos de ensaio dos espetáculos, das performances, os diversos workshops que realizamos ao longo dos anos, etc.
Wallace sugeriu que cada um rememore exercícios fundamentais que já experimentaram em outros processos e os traga para aplicarmos em nosso treinamento.
Andréia sugeriu que criemos pequenas cenas a partir da nossa relação com o nosso espaço de trabalho – CAC Walmor Chagas. E que, ao darmos tratamento de exercícios cênicos a estas cenas, possamos comungar / dividir / compartilhar com o público, nossas descobertas.
Às vezes, conversas dessa natureza, fazem com que enxerguemos nossos pontos fracos e nossas potências.
Ao enxergarmo-nos podemos finalmente estar presente “de forma pura” para o outro. O espectador. O companheiro de cena. O ator-jogador, o performer.
Interiorizar-se. Limpar camadas, chegar à essência.
O impulso vem do interior e contagia o externo.
A troca com o outro. O gesto exato. A troca do que é vital com o outro.
Estar inteiro. Estar.
São coisas como essas que estabelecem princípios de teatro de grupo.
Eis aí nosso centro de ação: teatro de grupo não se faz só com ideologia e discursos estéticos.
Se faz – principalmente – com o “estar presente”.

Portanto, estiveram, estão: Adriana Barja, Ana Cristina Freitas, Andréia Barros, Vander Palma e Wallace Puosso.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Corpo


TÍTULO: Preparação do atuador: limite, virtual, memória e vivência.
AUTOR: Renato Ferracini
INSTITUIÇÃO: LUME – UNICAMP
GT: Territórios e Fronteiras
PALAVRAS CHAVE: Atuação, Interpretação, Representação


Ler o conceito de pré-expressividade como um conceito de ação não expressiva, ou ainda,
ação antes da expressão é um erro. O corpo expressa. O corpo cotidiano expressa sempre. Mesmo o
suposto vazio e a inação são uma forma de específica de expressão. Mas podemos dizer que as
expressões cotidianas são varridas por um coletivo múltiplo de gestuais lugares-comuns. Clichês e
sensos comuns corpóreos regem as expressões cotidianas, sejam elas coletivas ou singulares. Isso
obviamente não é uma crítica. Esses gestuais clichês e sensos comuns nos permitem a comunicação
do dia-a-dia e, portanto, são necessários a uma época, cultura e a singularidades inseridas nesse
território temporal e espacial específico. Mauss e Le-Breton possuem estudos profundos nesse
sentido. Mas a arte corporal, o corpo-subjétil busca a transgressão desses limites expressivos
cotidianos. E para isso ele precisa de preparação.
Preparar um corpo-subjétil1 é buscar ir além dessa géstica cotidiana. Treinar e preparar o
corpo pré-expressivamente é o mesmo que realizar uma pós-expressão cotidiana, pós no sentido de
novas possibilidades, pós-possibilidades. Buscar potências de possibilidades, levar o corpo em uma
jornada de possíveis: isso é pré-expressividade e não há nada mais expressivo que a préexpressividade.
Para se lançar nesse território pré-pós-expressivo (portanto entre) o corpo necessita
de um território cujo tempo e espaço possam ser dobrados, reconfigurados e cuja potência de ação
possa ser alegre no sentido espinosano de aumento de possibilidade de afeto. É dessa necessidade
que vem a palavra treinamento. Mas cada ator, cada grupo, cada corpo-subjétil constrói o seu
próprio treinar e treinar esse corpo-subjétil não é tão somente um trabalho necessariamente
realizado em sala por um período determinado de tempo. O treinar é uma busca de estado e não
exercícios a serem executados em um espaço-tempo exato. Na verdade, no estado do treinar, pouco
importa a execução precisa e exata do exercício ou sua evolução enquanto complexidade. Importa,
sim, o uso de trabalhos e exercícios para se atingir um limite, uma borda, criar uma fissura em sua
géstica conhecida e cotidiana ou mesmo em seus clichês expressivos artísticos singulares no caso de
um ator com experiência..
1 CORPO-SUBJÉTIL: um corpo-em-arte não pode ser conceituado como uma ponta de um dualismo, mas
como um corpo integrado e vetorial em relação ao corpo com comportamento cotidiano. Chamei, então, esse
corpo integrado de corpo-subjétil. Esse conceito não é um ponto ou outro de uma dualidade mas uma
diagonal que atravessa essa dualidade abstrata e todos os pontos e linhas “entre”.
Esse treinar – quase uma ética - essa pré-pós-expressividade está alicerçada em dois
pilares básicos que são três multiplicidades complexas e que se comunicam em rizoma: a memória e
a vivência.
A memória é duração. Segundo Bérgson, ela – a memória - acumula o passado em um
presente que sempre passa. Mas o passado não é acumulado tão somente em formas de lembranças
concretas, mas é acumulado, principalmente, em forma de virtuais de memória que se aglomeram
independentemente de nossa vontade, criando uma espécie de memória ontológica. Estamos sempre
atualizando esses virtuais. Essa atualização pode ser meramente mecânica, ou seja, através do
controle de nossa vontade, quando dirigimos um carro, por exemplo, atualizamos mecanicamente os
virtuais de memória do coletivo de ações do guiar ou essas memórias são atualizadas independentes
de nossa vontade: um cheiro que nos remete a uma lembrança, um gosto de nos remete a um estado
de memória: Proust traduz magnificamente essa potência independente de atualização de memória
em sua passagem sobre o gosto do bolinho de Madeleine, lembrança da infância do herói, na cidade
de Combray, atualizada pelo gosto do bolinho com chá. Mas a ação de atualização não é nunca uma
ida do presente ao passado em uma espécie de re-vivência da lembrança, mas uma atualização é
sempre uma vinda do passado ao presente, sempre gerando uma recriação da lembrança no aqui
agora. É por isso que toda atualização é uma criação: a vinda do passado ao presente recria a
passado nesse mesmo presente.
Acredito que haja uma espécie bem específica de atualização de memória que é a
atualização de memória corpórea para um fim estético. Estamos falando, agora, da capacidade do
atuador em buscar uma atualização dessa memória corpórea, recriando sempre um fluxo poético
nesse movimento, ou seja, a capacidade de criar e sempre recriar esse fluxo através da atualização
de virtuais de forma consciente, mas não mecânica. Estou dizendo da capacidade do atuador em
atualizar a experiência vivida por Proust em sua Madeleine de forma consciente, com o corpo, pelo
corpo, através do corpo. Esse movimento, esse fluxo é possível devido à busca consciente da
atualização de vivências intensivas trabalhadas em estado de treinamento e vivência deve ser
entendida aqui como algo que:
[...] é trazida para fora da continuidade da vida, permanecendo
ao mesmo tempo referida ao todo da própria vida.[...] Na medida que a
vivência fica integrada ao todo da vida, este todo se torna também
presente nela (Gadamer, 2006, p. 116).
Isso significa que, segundo Gadamer, uma vivência teria a capacidade de, ao mesmo
tempo, realizar um certo desvio de fluxo da vida, mantendo nesse mesmo desvio o todo potente da
própria vida; e esse desvio vital - que contém o todo da vida - faz parte da própria vida. Uma
vivência, nesse caso, é uma experiência intensiva, vital, lançada de forma potente na duração virtual
de memória, mantendo o todo da potência vital dentro dela. Em outras palavras, vivenciamos
experiências que são acumuladas em virtuais potentes de memórias. Esses virtuais potentes de
memória contêm, em si, todo o potencial da própria vida: parte e todo como um só rizoma. Esses
virtuais de vivência intensiva, que podemos chamar de nódulos de potência virtuais ou matrizes
corpóreas (no caso do léxico do LUME), são potencialidades virtuais a serem atualizados
conscientemente no momento do estado cênico2. Treinar, portanto, significa criar a possibilidade de
vivenciar experiências intensivas, a ponto dessas experiências serem passíveis de recriação
posterior, recriando seu fluxo vital que ela, em si, já contém. Assim, a questão não é executar um
trabalho, mas vivenciá-lo, puxar esse trabalho em um limite intensivo. Claro que não estou falando
aqui de um elemento meramente mental no sentido de uma lembrança racional, mas essa vivência
fica impregnada de forma virtual no próprio corpo-memória, ou seja, não devemos entender
memória e vivência como experiências mentais ou meramente imagéticas, localizadas em um ponto
específico chamado cérebro, mas devemos entender essas vivências como vivências corpóreas,
vivências-subjéteis. Será que ainda necessitamos provar o corpo integrado? Memória é corpo, já
gritavam tantos pesquisadores teatrais. Continuemos a gritar, então...
Dessa forma ampliamos o conceito de “treinamento”: um “treinar” pode estar inserido na
ação de, por exemplo, sair às ruas e vivenciar experiências, observar os fluxos cotidianos, olhar as
relações sociais a ponto de gerar um afeto, uma experiência, uma vivência intensiva. Um ensaio
pode ser um estado de trabalho constante na busca de vivências e, é claro, o próprio estado cênico
se configura como uma fonte constante de vivências. O território do “treinar” é muito mais amplo
que um espaço-tempo destinado à realização de exercícios. O “treinar” se confira muito mais como
uma postura ética na relação com o corpo, com o espaço, com as relações sociais, com suas próprias
singularidades. Um atuador deve estar em constante treinamento ou, em outras palavras: um
performador deve estar na busca constante de fissurar seus limites de ação procurando uma potência
possível de expressão, seja em uma sala de trabalho, seja no ensaio de um espetáculo, seja dentro do
próprio espetáculo. No espetáculo se treina, assim como no cotidiano pode se encontrar estados
cênicos. O importante é encontrar potências de vivências que, em si, mantém sua força vital:
vivência como força motriz, matriz, que lançadas como virtuais potentes na memória dos atuadores
serão sua fonte inesgotável de organicidade e vida.
2 Chamo de ESTADO CÊNICO o momento específico em que o ator se encontra na ação de atuação
juntamente com o público e com todos os elementos que compõe a cena.
Bibliografia de Base
DELEUZE, GILLES e GUATTARI, FELIX. O que é Filosofia. Trad. Bento Prado Jr e Alberto
Alonso Muñoz. – Rio de Janeiro : Editora 34, 1992
------------------------------------------------------- Mil Platôs : Capitalismo e Esquizofrenia. Vol. 4.
Trad. Suely Rolnik. – Rio de Janeiro : Editora 34,1997.
DELEUZE, GILLES e PARNET, CLAIRE. Diálogos. Trad. Eloísa Araújo Ribeiro – São Paulo :
Editora Escuta, 1998.
GADAMER, HANS-GEROG. Verdade e Método I – Traços fundamentais de uma hermenêutica
filosófica. Trad. Fla´vio Paulo Meurer – Petrópolis, RJ: Vozes, Bragança Paulista, SP: Editora
Universitária São Francisco, 2005.
LÉVY, PIERRE. O Que é o Virtual? Trad. Paulo Neves. São Paulo : Editora 34, 1996
MATURANA, HUMBERTO. e VARELA, FRANCISCO. De Máquinas e Seres Vivos –
Autopoiese – A organização do Vivo. Trad. Juan Açuña Llorens. Porto Alegre : Artes Médicas,
1997.

sábado, 15 de janeiro de 2011

A Cultura como inclusão social.

Cultura e democracia

Coluna do Leitor 12 de janeiro de 2011 às 17:04h

Por Aluizio Belisário*

No momento em que são apresentados novos ministros – responsáveis pela definição e condução das políticas públicas setoriais a serem implementadas no país – parece interessante promover uma reflexão mais cuidadosa sobre a área da cultura, de importância fundamental em um processo voltado para a construção de uma sociedade mais justa para todos os seus membros.

Diversos aspectos ligados à cultura contribuem sobremaneira para a reprodução de uma sociedade dividida pela tecnologia, podendo se dizer que são ao mesmo tempo sua causa e consequência, pois se não podemos afirmar a existência de revoluções tecnológicas sem transformações culturais, também não podemos negar o papel da tecnologia na conformação cultural da sociedade.


É possível afirmarmos que as sociedades criam um imaginário através do qual se reproduzem, identificando o grupo social, distribuindo identidades e papéis, expressando os desejos e objetivos coletivos, de modo que todas elas se auto referenciam a partir de suas normas e valores fixados simbolicamente, como diz Pierre Ansart (Ideologias, conflitos e poder. Zahar, Rio, 1978).

Segundo o PNUD/Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, cultura não pode ser considerada como um conjunto cristalizado de valores e práticas, por recriar-se permanentemente à medida que as “pessoas questionam, adaptam e redefinem os seus valores e práticas em função da mudança das realidades e da troca de ideias”.

De qualquer modo, é possível pensar-se em cultura como um conjunto de aspectos, processos, rituais, hábitos, crenças e valores que garantem o reconhecimento de uma identidade a um determinado grupo social. Infelizmente, entretanto, a cultura é quase sempre vista como propriedade dos grupos hegemônicos, que buscam a desqualificação dos setores dominados, classificando suas manifestações culturais como folclóricas, atribuindo-lhes assim, um cunho depreciativo.

Ainda segundo o PNUD é possível identificar-se duas formas de exclusão social: a do modo de vida, que nega o reconhecimento e aceitação de um estilo de vida de um grupo, ao insistir em que cada um viva como toda a sociedade e; a da participação, quando a discriminação das pessoas as coloca em desvantagem nas oportunidades sociais, políticas e econômicas em função de sua identidade cultural.

Assim, considerando a cultura como um dos elementos fundamentais, no processo de dominação e entendendo ainda que as ações do aparelho cultural, embora cumpram o papel de garantir a manutenção e reprodução da ideologia dominante e, consequentemente, da estrutura socioeconômica dominante, também podem levar ao questionamento desta estrutura de dominação, sendo evidente a necessidade de se atuar neste campo, em busca da superação das situações de dominação vigentes.

Tais observações nos levam a afirmar a necessidade de se garantir o acesso dos setores dominados ao seio da cultura da sociedade, como uma das formas de superação da situação de dominação existente, num processo que pode ser denominado de “alargamento cultural”, no qual é absolutamente necessário que os aspectos, processos, crenças, etc. destes grupos também sejam levados aos grupos hegemônicos – ou seja, o processo de alargamento cultural deve ocorrer em via de mão dupla.

O exemplo das universidades que vem utilizando o sistema de cotas de acesso para negros, que passaram a sofrer uma explicável e justa pressão para incorporarem em seus currículos conteúdos sobre a história da África e da participação dos negros no desenvolvimento da cultura do país é um forte indicativo da importância deste duplo sentido do processo de alargamento cultural.

Gramsci utiliza o conceito de hegemonia para explicar o controle do Estado burguês sobre ideias e instituições no exercício da dominação política, observando que o controle que as classes dominantes exercem sobre a classe dominada, no campo da cultura, reduz a necessidade de uso da força física, o que nos leva à afirmação de que os fatores ligados diretamente ao processo produtivo não são os únicos responsáveis pelo exercício do poder, daí a importância de se travar uma forte luta pela superação de uma situação de dominação, ao nível das ideias e das formações culturais.

É possível afirmarmos que este início de século vem se caracterizando pela ocorrência de grandes transformações de cunho econômico e social, que acenam com uma possibilidade concreta de superação do quadro de forte exclusão social, gerado por uma sociedade caracterizada por uma cultura em que as tecnologias de informação e comunicação cumprem um papel de divisoras sociais e não de integradoras.

Ao observar o mundo através de sua cultura o homem tende a considerar o seu modo de vida como o mais correto e natural. Esta tendência ao etnocentrismo pode ser responsável pela ocorrência de inúmeros conflitos sociais ao promover a discriminação dos que são diferentes, pertencem a outro grupo, etc., levando a que suas práticas culturais sejam tratadas de modo depreciativo.

Pensar em uma sociedade mais justa implica em trilhar um caminho que conduza à modernização, com base em um sistema produtivo que não se caracterize pela acumulação selvagem de capital, resultante de um processo violento de espoliação de valor do trabalho e, consequentemente, de desprezo pelo homem, mas sim, baseado em um sistema produtivo que não apenas respeite o homem como elemento fundamental desse sistema, mas principalmente, que o trate como o objetivo central do processo.

Para tal, é necessário construir uma sociedade cujo fundamento ético seja o respeito à dignidade humana, o que implica, obviamente, na adoção de políticas de distribuição de riquezas coerente com o desenvolvimento produtivo, as quais permitam à sociedade como um todo, e não apenas a uma reduzida parte desta, se beneficiar do esforço coletivo.

Falar em distribuição de riquezas evoca, inicialmente, a ideia de melhor remuneração do trabalho, distribuição de lucros e outros mecanismos econômico-financeiros. Entretanto, tais mecanismos podem ser considerados voláteis, à medida que podem se desvanecer com o tempo, enquanto que outras formas de distribuição, que se processem através da educação e da cultura tendem a ser permanentes em seus efeitos.

Daí a importância do desenvolvimento de um processo de “alargamento cultural”, no qual se destaca a necessidade de se criarem meios de acesso dos grupos oprimidos à cultura do grupo hegemônico e vice-versa, possibilitando aos primeiros, a partir do conhecimento desta cultura dominante e das interferências provocadas nesta, pela inserção de sua própria cultura, a realização de transformações sociais necessárias ao rompimento da dominação política, econômica, social e cultural.

Como, entretanto, em qualquer sociedade não é possível que um indivíduo ou grupo domine todos os aspectos de sua cultura, a participação dos diversos grupos componentes da sociedade, nas definições sobre política ou políticas culturais a serem implementadas no país, torna-se imprescindível, não apenas como garantia da real ocorrência de um alargamento cultural, mas como base de sua própria articulação com os demais membros da sociedade, o que implica na necessidade de democratização radical das ações do Ministério da Cultura, através da convocação dos diversos grupos para a discussão e decisão a respeito das políticas a serem implementadas.

*Aluizio Belisário é Professor Adjunto da UERJ. Doutor em Educação-PROPED/UERJ, Mestre e Bacharel em Administração Pública-EBAPE/FGV.

http://www.cartacapital.com.br/politica/cultura-e-democracia

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Avante






O corpo de todos estava dolorido. Sinto músculos que nem lembrava mais que existiam! Mas, ontem (13) estávamos lá (Adriana, Ana, Vander e eu) no CAC Walmor Chagas, para mais um dia de treinamento. E foi muito bom. Já sentimos diferença na nossa prontidão, sensações e jogo entre nós quatro. Primeiro alongamento e em seguida corda. Para melhorar a nossa observação, Ana e Dri comandaram os ritmos para o trabalho de precisão corporal meu e do Vander. Em seguida, foi a vez delas fazerem os exercícios e Vander e eu comandarmos. Incluímos o bastão para trabalhar o olhar e a dificuldade de um objeto junto ao corpo. O trabalho foi individual.
Em seguida, em conjunto, trabalhamos o bastão. Dois bastões para quatro pessoas, para melhorar precisão, entrosamento e confiança de grupo, gestos e sensação. Ontem, já foi melhor, tanto a resposta mais rápida do corpo quanto ao entrosamento, fundamental para a cena.
Começamos a ler o capítulo três de “Matéria e Memória”, de Henri Bergson, que trata “Da sobrevivência das imagens. A memória e o espírito”. Nesse texto, podemos encontrar o debate precioso entre os atores “o estar presente” em cena.
“Meu presente, portanto é sensação e movimento ao mesmo tempo; e, já que meu presente forma um todo indiviso, esse movimento deve estar ligado a essa sensação, deve prolongá-la em ação”. página 113
Por hoje é isso! Andréia

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

De volta as atividades...


Volta ao batente

Depois de um merecido descanso, parte dos integrantes da Cia Teatro da Cidade já botou a mão na massa e iniciou no último dia 11 de janeiro treinamento corporal. Adriana, Ana, Andréia e Vander já se reuniram no Centro de Artes Cênicas (CAC) Walmor Chagas para preparação corporal, que incluiu exercícios de alongamento, precisão _utilizando corda e bastão_, e, por último, gesto e sensação, baseado em imagens dos próprios atores na peça Toda Nudez Será Castigada, que será remontada em 2011.
Os encontros, a princípio, acontecem nas terças e quintas-feiras, com pelo menos três horas de treinamento. À medida que os outros integrantes forem chegando de seus merecidos descansos serão já integrados ao treinamento. A intenção é não ter um líder para comandar o treinamento, mas sim a cada momento um integrante propor um jogo de exercício.
Amanhã (13), estaremos no CAC para mais uma etapa de treinamento físico. E por falar em CAC, estão abertas as inscrições para o Curso de Clown/Palhaço que será ministrado pelo nosso querido ator Márcio Douglas, criador da La Cascata Cia Cômica e integrante do elenco do Doutores da Alegria desde 2004.
O curso acontece em três módulos, divididos em finais de semana dos meses de janeiro, fevereiro e março.
A primeira fase será nos próximos dias 29 e 30 de janeiro, das 14h às 18h. E o segundo e terceiro módulos ocorrem nos dias 26 e 27 de fevereiro e nos mesmos dias de março, também das 14h às 18h. As inscrições devem ser feitas no site www.lacascata.com.br e o valor total do curso é de R$ 180,00.